terça-feira, 16 de abril de 2013

O valor do tempo


‘Time Jesum transeuntem et non reverendem’
[‘TEME A JESUS QUE PASSA E NÃO VOLTA’]



Raphael de la Trinité


  Encontrei este pensamento de Alexandre Dumas: "On ne fait jamais le bien assez vite. Est-ce qu'il a le temps d'attendre?". Equivaleria, em português, à seguinte idéia: ‘Na prática do bem, mesmo a maior presteza não é suficiente. Há sempre escassez de tempo. A ocasião passa depressa e nem sempre volta’. A reflexão do célebre literato francês encontra sólido apoio na Fé. (‘Time Jesum transeuntem et non reverendem’).


A título de subsídio, ocorre-me transcrever uma breve citação (ler abaixo) da seguinte obra 

Meditações Práticas Para Todos os Dias do Ano 
Segundo a Vida e a Doutrina de N. S. Jesus Cristo
VERCRUYSEPe. Bruno, S. J.
Tradução e Adaptação Portuguesa revista por
SÁ E COSTA, Pe. Luiz Moreira de, S. J.
Tomo I (de 1º de janeiro a 30 de junho)
Livraria Apostolado da Imprensa
Porto 1950/ 542 p. 

EMENTA - 'O tempo vale tanto como Deus (e eis porque e como continua S. Bernardo); porque cada instante bem empregado pode valer-nos a posse eterna do mesmo Deus'. 

SOBRE O VALOR DO TEMPO

"'O tempo vale tanto quanto o céu', diz S. Bernardo. Nada mais certo, porque ninguém entrará no céu sem ter sido provado no tempo, nem o possuirá (ao céu), segundo as divinas promessas, senão como recompensa do bom emprego do tempo. Esta eterna recompensa pode depender dum único momento bem empregado. Sirva de exemplo o bom ladrão. Tinha sido má toda a sua vida: agora agoniza; mas neste momento supremo, iluminado pela graça, reconhece humildemente suas culpas e implora a misericórdia do Senhor. Tanto basta para que Jesus logo lhe garanta a posse do céu: 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Luc., XXIII, 43).
  • I PONTO (...)
APLICAÇÕES -- Qual não será, pois, o apreço em que devemos ter o tempo que se nos concede? Devemos estimá-lo mais do que o diamante que valesse o melhor reino na terra. Pois o que é um reino destes comparado com o Reino dos céus? E poder o bom emprego do tempo valer-nos a posse eterna de tal Reino! Além disso, o bom emprego de cada momento rende novo grau de glória e felicidade no céu: é um novo céu no mesmo Céu!

AFETOS -- Atos de fé sobre verdade tão animadora, e de pesar pelo desperdiçar do tempo.
PROPÓSITOS -- Melhor distribuição do tempo, para nós o aproveitarmos. Se a falta de método é a razão da perda do tempo, nada o faz render tanto como uma prudente distribuição. (...)
  • II PONTO (...)
APLICAÇÕES -- 'Uma só gota do precioso sangue de Jesus Cristo basta, diz S. Tomás, para resgatar o mundo. (...)
PROPÓSITOS -- Imitar os Santos: nunca julgavam demais tudo o que faziam para aproveitar a mínima parcela de tempo. Santo Afonso de Ligório e muitos outros chegaram a obrigar-se por voto a não o perder voluntariamente.
  • III PONTO 
CONSIDERAÇÕES -- 'O tempo vale tanto como Deus (e eis porque e como continua S. Bernardo); porque cada instante bem empregado pode valer-nos a posse eterna do mesmo Deus'. Por isso, que conta rigorosa havemos de dar dele [do tempo]! Uma palavra ociosa profere-se num instante; e Jesus afirma-nos que esta perda de tempo, a nosso ver tão insignificante, não passará despercebida. 'Eu vo-lo digo que toda palavra ociosa que os homens disserem, dela darão conta no dia do juízo' (Mat. XII, 36).
APLICAÇÕES -- (...) Nos nossos exames de consciência pedimos, a nós mesmos, rigorosas contas do emprego do tempo, buscamos ver em que o desperdiçamos e quais as causas deste desperdício? Confessamo-nos desta falta com arrependimento e propósito sincero de emenda? Procedamos a um exame minucioso: vejamos quando, onde e como perdemos o tempo, a fim de melhor o empregarmos no decurso deste novo ano [NOTA: a meditação corresponde aos dias 4 e 5 de janeiro].

SOBRE O BOM EMPREGO DO TEMPO
  • I PONTO
CONSIDERAÇÕES -- (...) Ensina-nos a fé que nenhuma ação, por melhor e mais santa que seja de sua natureza, é meritória para o céu se quem a pratica está em pecado mortal (...). Que perda e que infelicidade! (...)
APLICAÇÕES -- (...) E se fosse necessário, para perseverar até ao último suspiro nesta resolução, estar dispostos a qualquer sacrifício, não o estaríamos?
AFETOS -- Aumentai em nós, Senhor, a estima e o amor ao vosso santo serviço e à nossa vocação.
PROPÓSITOS -- Esforcemo-nos em procurar para o nosso próximo a felicidade que desfrutamos, desviando-nos, quando estiver na nossa mão, do miserável estado de pecado.
  • II PONTO (...)
APLICAÇÕES -- Não devemos temer vermo-nos despojados, ao menos parcialmente, do mérito de muitas de nossas boas obras, se o amor próprio, a vaidade, o desejo de agradar aos homens, estão secretamente na raiz dos motivos que nos movem a praticá-las? Entrai nos esconderijos do vosso coração e tende a coragem de vos interrogar e de responder a vós mesmos... (...)
  • III PONTO (...)
CONSIDERAÇÕES (...) -- Fazemos muitas ações boas, com intenção habitualmente reta, mas fazemo-las com desleixo, com tibieza, com muitas imperfeições. O tempo que empregamos nelas será perdido em grande parte e vazio de méritos. É por este motivo que o Espírito Santo urge com tanta energia: que sejamos cuidadosos e perfeitos em tudo o que fazemos -- In omnibus operibus tuis praecellens esto (Ec., XXXIII, 23).
APLICAÇÕES (...) -- 'Num curto prazo terá alcançado uma longa carreira', como diz do justo o Livro da Sabedoria (Sap. IV, 13). Só de nós depende, afinal, participarmos desta felicidade. Bom meio para consegui-la é acostumarmo-nos, quando nos benzemos, juntar às palavras do sinal da cruz, que devemos fazer muitas vezes, estas outras: 'Quero fazer bem esta ação'; e depois examinarmo-nos, ao terminá-la.

COLÓQUIO -- Com S. Estanislau Kotska que, ainda antes de abraçar o estado religioso, chegou em pouco tempo a uma grande santidade; não porque tivesse praticado acções de grande brilho, mas porque eram todas, mesmo as mais insignificantes, acompanhadas duma grande pureza de intenção e duma caridade ardente. Deste modo santificava ele o tempo, sem perder inutilmente para o céu um só momento. Peçamos-lhe nos obtenha a graça de o imitar (op. cit. p. 31, 32, 33, 34, 35).      

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