terça-feira, 19 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 18 de Novembro: O ato heróico (Parte XIX)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre




18 de Novembro

O ATO HERÓICO

Que é o “ato heróico”?


“É o ato que consiste em oferecer à Divina Ma­jestade, em proveito das almas do purgatório, todas as obras satisfatórias que fizermos durante a vida e todos os sufrágios que forem aplicados pela nossa alma depois da nossa morte”.

Tal é a definição autêntica deste ato aprovado oficialmente pela Igreja e indulgenciado. Chama-se heróico, porque realmente exige uma abnegação de todos os tesouros que possamos lucrar com nossas boas obras e contém uma renúncia de todos os su­frágios que oferecerem por nossa alma depois da nos­sa morte, em favor das almas do purgatório. Este ato há de ser feito, para ser válido, em perpétuo. É irrevogável na intenção de quem o faz. Não obriga sob pena de pecado. Se alguém, a quem faltou gene­rosidade ou teve receio de se privar de sufrágios de­pois da morte, quis de novo adquirir para si as suas obras satisfatórias, renunciou ao voto heróico, não comete pecado nem mortal nem venial.

Pelo ato heróico não renunciamos o mérito de nossas boas obras, isto é, o que nos dá nesta vida um acréscimo da graça e a glória no paraíso. Este  me­recimento é nosso e não o podemos perder nem dá-lo aos outros. O ato heróico é uma obra muito meritó­ria, e este mérito de uma obra tão bela e heroica não o podemos perder. Só o mérito do ato heróico quanto não vale para nossa alma! Este mérito não o perde­mos. Depois desta obra satisfatória, tudo o mais que fizermos será das almas do purgatório. Desde que fazemos o ato heróico, todas as indulgências que lucramos são das almas. Tudo que de bom possamos fazer e ter mérito e lucrar alguma coisa será do pur­gatório, direito e propriedade das almas. É uma re­núncia total. Só a indulgência plenária da hora da morte não pode ser oferecida para as almas e será nossa, porque não é aplicável aos defuntos.

O ato heróico não impede de rezar nas próprias intenções e pelos mortos. Quando fazemos um ato de penitência e de oração, por exemplo, recitando um terço de joelhos, há neste ato, para falar uma lin­guagem teológica, três frutos diferentes: um fruto meritório que não o podemos perder é o mérito pes­soal de quem o pratica — o valor satisfatório do ato que é a penitência, o sacrifício feito, e este é para as almas é do ato heróico — e finalmente, uma força impetratória que é da oração como oração. A oração é uma força e Deus prometeu ouvi-la. O ato heróico não nos impede utilizar a força impetratória da oração.

Quem faz o ato heróico é como um religioso que fez o voto de pobreza: tudo o que ganha não lhe per­tence. A diferença é que o voto de pobreza obriga em consciência e o ato não. O abandono que a alma generosa faz em favor das almas do purgatório é fei­to, em geral, por todas e nunca em favor de uma ou outra alma. O ato heróico não impede que se ore por esta ou aquela alma em particular e se ofereça a Nosso Senhor muito sufrágio pelos nossos mortos queridos.

Não pode tudo isto ser feito na oferenda geral que fizermos a Deus?



Origem do ato heróico


O ato heróico em si, não é uma devoção nova na Igreja, como pretendem alguns. Em séculos passa­dos, muitos homens de grande santidade e grandes almas generosas ofereceram a Deus seus tesouros de obras satisfatórias em favor das pobres almas do purgatório. Santa Gertrudes, Santa Catarina de Sena, Santa Liduina e muitos outros santos tiveram esta generosidade. Santa Teresa fez este ato em favor de um mestre espiritual, o Provincial dos Carmelitas, falecido, e ela libertou-o do purgatório com suas ora­ções. Todavia, consideramos como fundador e apósto­lo do ato heróico o Pe. Gaspar Olinden, clérigo regu­lar dos Teatinos. Este sacerdote piedoso tinha uma devoção muito grande pelo Purgatório e sua grande preocupação e todo seu zelo ardente o empregava em favor das pobres almas. Lembrou-se deste ato heróico, desta oferenda generosa a Deus em favor do purgatório e apresentou-o ao Santo Padre Bento XIII, que não só o aprovou, mas o enriqueceu de indulgên­cias e privilégios. Depois, todos os Pontífices confir­maram a aprovação e estimularam e abençoaram tão belo ato.

Bento XIII, não contente de aprovar o ato heróico, ainda fez publicamente, e do púlpito, a entre­ga de todos os seus bens espirituais pelos mortos, como se pode ver nos sessenta sermões que pregou sobre este assunto.

Naquela época viram-se Ordens inteiras recomen­darem o ato heróico. O Superior Geral da Companhia de Jesus mandou recomendá-lo a todos os seus súditos. O Pe. Ribadanera piedoso hagiógrafo propa­gou muito o ato heróico e o Pe. Nierenberg. O Pe. de Montroy, no leito de morte, não só deu às almas o mérito de todas as obras satisfatórias feitas em vida, mas a sua caridade se estendeu além. Fez um tes­tamento sublime, diz o Pe. Faber “que não sei de ou­tro igual”: cedeu sem exceção para as almas do pur­gatório todos os méritos, orações, Missas, indulgên­cias que a Companhia de Jesus costuma aplicar aos seus membros defuntos, todos os sufrágios que seus amigos pudessem oferecer por ele e tudo enfim, pe­las almas.

Há muitos exemplos admiráveis de atos heróicos pelo purgatório.

Finalmente, nos últimos tempos Nosso Senhor suscitou uma grande alma devotíssima do purgató­rio e fundadora de uma Congregação religiosa espe­cialmente destinada a sufragar as santas almas e entregue toda a serviço do purgatório num ato heróico de caridade. Foi a Madre Maria da Providência. Des­de pequenina, esta serva de Deus sentia grande com­paixão pelas almas sofredoras. Um dia a encontra­ram muito pensativa e grave em meio dos brinque­dos da criançada. — Que esta pensando? — Sabem no que penso? Disse Eugênia (tal era o seu nome no século), eu penso numa prisão de fogo de onde não se pode sair e da qual com uma palavra se podem tirar os prisioneiros.

As companheiras a olharam surpreendidas. “Es­ta prisão de fogo é o purgatório e com uma palavra, com a oração, podemos libertar as almas”.

Mais tarde foi a fundadora de uma Congregação, única na Igreja, cujos membros se oferecem a Deus pelas almas e vivem o voto heróico.

Eis como se desenvolveu, nos últimos tempos, a bela prática do ato heróico.




Vantagens do ato heróico


Um ato tão generoso e que nos despoja de tan­tas riquezas e nos deixa até sem sufrágios depois da morte, poderá ter vantagens, lucra muito, porven­tura, quem o fez? Sim, mil vezes sim! É um engano pensar que se perde muito com o ato heróico. Ao invés, lucra-se mil vezes mais. Deus se deixa vencer em generosidade? Não há gratidão nas almas salvas por tão grande socorro?

O ato heróico é um ato cheio de mérito, é um ato perfeito que nos faz esquecer de nós mesmos para cuidar de nossos irmãos e da glória de Deus. Quem faz o ato heróico aumenta por este ato seu grau de graça neste mundo e o grau de gloria no outro. E o ato de caridade que pratica, não há de atrair a mise­ricórdia daquele Senhor que prometeu cem por um e o reino do céu ao menor bem que se faz neste mun­do por amor de Deus? “A caridade cobre a multidão dos pecados”, diz a Escritura, e este gesto de cari­dade heroica não há de obter perdão e descontar mui­tos pecados de quem o faz? E a indulgência plenária que se ganha com o ato heróico? E a indulgência ple­nária da hora da morte que nos pertence e não pode­mos aplicá-la para ninguém? E Nosso Senhor se dei­xará vencer em generosidade? Não tenha receio de sair prejudicado quem faz o ato heróico em favor das almas do purgatório. Este heroísmo de caridade será recompensado com superabundância de graças neste mundo e de glória no outro. Não nos preocupemos porque não podemos dispor de nossos tesouros em fa­vor de nossos mortos queridos como bem entendemos. Nosso Senhor cuidará deles muito mais, e nossa ca­ridade lhes há de ser um refrigério tão grande no purgatório e talvez concorra para libertá-los do pur­gatório muito mais depressa do que se estivessem dependendo de nossos pobres sufrágios muita vez até esquecidos.

E para terminar, vejamos as condições e as in­dulgências do ato heróico:

Para fazer o ato heróico é mister consultar o diretor espiritual ou um prudente confessor, procurar conhecer bem o que vai fazer e saber a responsabili­dade que assume. Não se deve fazê-lo levianamente e num momento de fervor irrefletido. É muito sé­rio e é preciso lembrar que é heróico! Não é pres­crita nenhuma fórmula especial. Poder-se-ia usar uma como esta: “Para vossa glória, ó meu Deus, e para imitar o melhor possível o Coração generoso de Jesus, meu Redentor, a fim de mostrar também minha dedicação para com a Santíssima Virgem Ma­ria, minha Mãe e Mãe das almas do purgatório, en­trego em suas mãos todas as minhas obras satisfa­tórias assim como o fruto de todas as que, porven­tura, se venham a fazer por minha intenção depois de minha morte, a fim de que Ela faça a aplicação às almas do purgatório segundo a sua sabedoria e como melhor lhe aprouver”. Quem faz o ato heróico pode lucrar as seguintes indulgências, aplicáveis aos defuntos: uma indulgência plenária cada vez que se aproxima da Comunhão nas condições do costume; vi­sita à igreja e oração pelo Papa. Outra indulgência plenária cada segunda-feira, ao ouvir Missa pelos mortos. Os sacerdotes que fizerem o ato heróico gozam do altar privilegiado pessoal em todos os dias do ano (P. P. O. 547.).


Exemplo

Um voto heróico


Uma donzela chamada Gertrudes, acostumara-se desde os mais tenros anos, a oferecer por inten­ção das almas do purgatório todas as suas boas obras. Era tão bem aceita esta devota prática no purgató­rio e no céu, que muitas vezes, o Salvador se com­prazia em designar-lhe as almas mais necessitadas. Estas, libertadas pela sua piedosa caridade, se lhe mostravam gloriosas, para lhe agradecerem e prometiam-lhe não esquecê-la no paraíso. Passava a vi­da neste santo exercício e, cheia de confiança, via em paz aproximar-se a morte, quando o infernal ini­migo, que de tudo sabe fazer ocasião para tentar os homens, começou a representar-lhe que ela se havia despojado de tudo e de todo mérito satisfatório de cada boa obra e ia cair no purgatório para nele ex­piar em longas penas todas as suas culpas.

Este tormento de espírito a lançara em tal de­solação, que seu Esposo celeste dignou-se de vir con­solá-la. “Por que, disse ele, ó Gertrudes, estás tão triste e pensativa? Tu que outrora gozavas da mais perfeita serenidade?”. Ah! Senhor, respondeu ela, em que deplorável situação me encontro! Vede, a morte se aproxima, achando-me eu privada da satisfação das minhas boas obras, que apliquei pelos defuntos; com que poderei pagar a dívida que contraí para com a divina Justiça? Replicou-lhe com ternura o Se­nhor: “Não temas, ó querida minha, porque ao con­trário, aumentastes pela tua caridade a soma de teus merecimentos, e não só tens bastantes para expiares as tuas leves culpas, mas adquiristes altíssimo grau de glória na bem-aventurança eterna. É assim que minha clemência reconhecerá com uma generosa recompensa, que cedo virás receber no paraíso a tua dedicação pelos defuntos”.

Desapareceu a estas palavras, e a alma de Gertrudes foi incendiada de um novo fervor e de um ardente desejo de socorrer as almas dos defuntos.

Enchamo-nos também de zelo e caridade para com essas almas, que rico galardão está prometido nos céus aos nossos esforços (Dyon, Cart. de nonviss. apud P. Mart. de Rox de statu animarum, cap. 20.).

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