sábado, 30 de novembro de 2013

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas! — 29 de Novembro: As últimas vontades dos mortos (Parte XXX)



Nota do blogue:  Acompanhe esse Especial AQUI.

Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!
30 meditações e exemplos sobre o Purgatório e as Almas
por Monsenhor Ascânio Brandão

Livro de 1948 - 243 pags
Casa da U.P.C.
Pouso Alegre





29 de Novembro

AS ÚLTIMAS VONTADES DOS MORTOS


                                         
Somos obrigados a executar com justiça e cons­ciência as últimas vontades dos nossos mortos. O que no leito de morte nos pediram, o que deixaram em testamento seja respeitado, porque daremos contas severas a Deus desta tremenda injustiça se lesarmos os direitos dos mortos e não cumprirmos suas últi­mas vontades.

As pobres almas do purgatório são vítimas da Justiça de Deus, porque devem expiar seus pecados, e muitas vezes também vítimas das injustiças dos homens. Herdeiros que defraudam os bens dos mor­tos e nem se lembram de lhes sufragar a pobre alma com uma só Missa! Filhos que discutem e se odeiam por uma miserável herança e cometem toda sorte de injustiças, lesando-se mutuamente numa louca ambi­ção, ao invés de em paz honrarem a memória dos pais e cumprirem as cláusulas dos testamentos. É uma das mais tremendas injustiças. Lesar os vivos é um pecado, mas lesar os mortos tirando-lhes os sufrá­gios por injustiça, é um pecado que só pode atrair a vingança de Deus. Diz o Espírito Santo que haverá um juízo sem misericórdia para quem não usou de misericórdia. “Que juízo tremendo e duro não há de ser o de quem defraudou os direitos dos mortos ? Lesar um pobre, disse o Quarto Concilio de Cartago, é se fazer assassino do pobre”. Que não será o que lesa o direito das pobres almas?

Cumpramos as últimas vontades de nossos mor­tos com muito escrúpulo e cuidado, porque, ai de nós se não o fizermos! Têm-se visto castigos tremendos pesar sobre os que roubam os direitos dos defuntos. Se deixaram legados para Missas, dinheiros para obras de caridade, propriedades para determinados fins, respeitemos estas vontades! Façamos executar o mais depressa possível os testamentos. Principalmente não retardemos as Missas que deixaram para serem ce­lebradas. É um perigo! Tomemos bem nota das úl­timas recomendações dos agonizantes. O Concilio de Trento recomenda aos Bispos que velem atentamen­te o cumprimento dos legados feitos pelos fiéis de­funtos. Vários concílios chegam a lançar excomu­nhão sobre os que cometem injustiças e fraudes nos legados, sobretudo de Missas. É preciso cumprir com fidelidade os testamentos o mais depressa que for possível. As demoras muita vez importam em grande sofrimento no purgatório para os defuntos e prejuízo para os vivos.

Muito cuidado com os testamentos! Procurai não entregar, a não ser em mãos seguras, os legados de Missas. São os mais sérios e importantes. Segundo muitas revelações particulares, estas injustiças têm custado anos e até séculos de purgatório a muitos! Não se roube o que é do direito dos fiéis defuntos!

Lembremo-nos das expressões severas do Conci­lio de Cartago: “Egentium necatores” — são assassi­nos das almas necessitadas, os que lesam os testa­mentos e não cumprem as últimas vontades dos mor­tos. Depressa, sem hesitação sejamos fidelíssimos e pressurosos em cumprir as últimas vontades dos mortos. Com isto nos livraremos de muitos castigos. Não se brinca com o severo juízo de Deus na defesa dos direitos dos mortos!


Respeitai os mortos!

Estamos numa época de lamentável ausência de respeito e veneração pelas coisas sagradas. Uma ho­ra de impiedade e irreverência. O homem moderno paganizado zomba de tudo, deturpa a verdade, nada leva a sério. Uma das manifestações mais dolorosas desta irreverência é o desrespeito à memória dos defuntos, e quando não os deixam no esquecimento, zombam deles, ou os trazem à baila em anedotas e conversas imorais.

É uma impiedade. Respeitemos a memória dos defuntos. Os pagãos tinham este senso quando di­ziam: parce sepultis! Perdoa aos mortos! Comete­ram erros? Foram maus? Já estão entregues à Jus­tiça de Deus. Rezemos por eles! Que poderemos fa­zer então? Não nos podemos vingar dos defuntos. Podemos lamentar o que fizeram, mas sejamos dis­cretos e não vamos muito além do que pode mandar a justiça ou a reparação de algum escândalo que deixaram.

Nosso povo graças a Deus é tão delicado e sen­sível à memória dos defuntos! Como é edificante ou­vir sempre a nossa gente se referir aos defuntos com expressões de caridade e respeito: Deus lhe perdoe! Deus o tenha em bom lugar! Deus que o não castigue na eternidade! É este o modo de falar do povo. É mister conservá-lo e guardemos esta tradi­ção de respeito pelos mortos. Infelizmente, uma im­prensa sem critério e irreverente e até imoral vai arrancando do povo este sentimento delicado. Hoje ouvem-se referências estúpidas e atrevidas à memória até de entes queridos. Com que linguagem se re­ferem alguns aos mortos! Anedotas grosseiras, brin­cadeiras de mau gosto, com os defuntos e com moti­vos fúnebres! Não, isto não pode ser! Os pagãos não admitiriam isto, porque entre eles o culto dos mor­tos é sacratíssimo. E cristãos civilizados desrespei­tam a memória até dos seus entes queridos! É isto fruto do materialismo de nossa época.

Eduquem os pais no lar aos filhos, no culto e na reverência aos mortos. É um capítulo da boa edu­cação. A Igreja cerca de veneração os cadáveres, manda-nos reverenciar os mortos e orar por eles no dia de Finados. Por que havemos de permitir que até no seio de famílias cristãs se brinque e se zombe da memória sagrada de nossos defuntos?

Outro sintoma alarmante desta irreverência é o desrespeito nos enterros e nas cerimônias fúnebres. Missas de sétimo dia e aniversário nas quais se veem nos templos além da indiferença para com o altar, ver­dadeiras profanações nas atitudes e conversas. En­terros nos quais se fumam e as palestras versam sobre assuntos até impróprios. Enterros sem uma ora­ção, sem uma manifestação de fé cristã! É doloroso, é lastimável tudo isto! Somos um povo de tradições piedosas e de veneração pelos mortos. Porque não guardar estas tradições que, graças a Deus, ainda vi­goram por aí afora em nosso interior, onde esta estúpida civilização paganizada ainda não chegou. Felizmen­te, muitas famílias nossas ainda conservam nossos hábitos cristãos e piedosos do culto dos mortos. To­davia, é mister façamos uma campanha pelo respeito nos funerais, pelo respeito aos defuntos.


Sejamos apóstolos do purgatório!

Sejamos apóstolos do purgatório! Que significa isto? Há o apostolado da salvação das almas neste mundo, apostolado necessário, urgente e indispensá­vel, dizia Pio XI aos leigos da Ação Católica. Todo sacerdote foi chamado por Deus a salvar a sua alma com uma condição: a de salvar também as almas dos seus irmãos. Onde há almas que possam glorificar a Deus, lá deve estar o apóstolo para lutar por elas e salvá-las. Há multidões de pobres almas sofredoras nas chamas expiadoras do purgatório. Podemos ficar indiferentes à sorte das pobres almas? É nosso interesse também trabalhar pelo purgatório. “Eu nunca vi, disse Santo Agostinho, eu nunca vi e não me lem­bro de ter lido jamais que aquele que reza pelos mor­tos tenha tido morte no pecado, ou simplesmente du­vidosa”.

Não queremos salvar nossa alma? Procuremos esta garantia que nos poderá dar da perseverança fi­nal, a nossa perseverança na caridade para com os defuntos.

Nosso Senhor socorre os que socorrem os mortos.

Façamos tudo que pudermos para que se mul­tipliquem os sufrágios das almas. Um zelo engenho­so procura sempre ocasiões e não perde oportunidade de fazer o apostolado do purgatório. Propaganda de bons livros que tratem do assunto, distribuição de folhas volantes, orações, etc. É mister propagar o uso da Comunhão mensal pelos mortos, o rosário pelas almas, as novenas, e sobretudo uma campanha pela Santa Missa. Mandar celebrar Missas pela alma dos pobrezinhos, fazer economias nos cofrezinhos das al­mas, para Missas. Ao invés de tantas promessas inú­teis, mandar celebrar Santas Missas pelas almas mais abandonadas, a fim de alcançar de Nosso Senhor por esta caridade as graças desejadas.

Finalmente, há uma prática que se vai propa­gando entre nós e que tem dado excelentes resultados e concorrido muito para incrementar a devoção pelo purgatório: é o Natal das Almas. Em que con­siste? Não costumamos ser carinhosos e festejarmos o Natal de Jesus com presentes e obséquios aos nos­sos pobres? Pois lembremo-nos daquelas miseráveis e pobres almas que gemem no purgatório, vamos pre­parar-lhes um Natal de sufrágios. Durante alguns meses antes do Natal, ou melhor, durante o ano todo, vamos formando um tesouro espiritual de Missas mandadas celebrar, Missas assistidas, Comunhões, esmolas, mortificações, Vias Sacras, Novenas das almas, enfim, um ramalhete com toda sorte de sufrá­gios, e ofereçamos tudo pelo Natal das Almas, para que Nosso Senhor dê às pobres Almas sofredoras um Natal no céu, um Natal eterno na Glória. Prepare­mos cada ano este Natal das Almas. É um meio de estimular a devoção e socorrer muitas almas aban­donadas do purgatório.

Enfim, o que não há de inventar o zelo esclare­cido de uma alma caridosa e que compreende a neces­sidade e o sofrimento das almas do purgatório!

Sejamos apóstolos do purgatório. Na hora da morte e na eternidade, havemos de ver quantos mé­ritos e quantos favores do céu receberemos por esta grande caridade!


Exemplo

As últimas vontades de nossos mortos

É preciso muito cuidado e muito escrúpulo no cumprimento das últimas vontades de nossos defun­tos. Executemos as suas ordens e testamentos com toda justiça, porque muitas vezes os maus herdeiros ou ingratos não cumprem o que lhes foi deixado em testamento e fazem sofrer no purgatório as pobres almas e preparam também para si próprios um ter­rível purgatório, porque Deus sempre castiga os que são causa do sofrimento das pobres almas.

Conta o Pe. Rossingnoli em seu livro “As mara­vilhas das almas do purgatório”, este exemplo entre muitos:

Em Milão, uma fertilíssima plantação ficou des­truída por uma chuva de pedras, que tudo devastou. E o que era para se admirar é que em torno do sítio não caiu um só granizo e nem houve estrago por me­nor que fosse. Foi revelado o castigo de Deus sobre os seus donos. Aquela propriedade era de uns jovens que a haviam herdado do pai, falecido, e não cumpri­ram as últimas vontades do defunto. Trabalhavam aos domingos e se esqueciam de sufragar a alma do pai.

Outro fato se conta do tempo de Carlos Magno. Narra um antigo cronista que um bravo soldado que havia seguido o grande Imperador em todos os cam­pos de batalha, ao sentir se aproximar a morte cha­mou um neto, único herdeiro do que possuía, e lhe disse: Meu filho, toda a minha riqueza consiste nas armas e no belo cavalo que possuo. As minhas armas ficarás com elas e o meu cavalo será vendido e o pre­ço entregue aos sacerdotes, a fim de que uns me so­corram com as orações e outros com o Santo Sacrifício da Missa por minha alma.

O neto, em pranto, prometeu cumprir a vontade do avô agonizante. Todavia, mal o havia sepultado, já se esquecera das recomendações. Pensou consigo: este cavalo tão belo eu o venderei mais tarde e cum­prirei a última vontade de meu avô. Vou aproveitá-lo antes.

E passavam-se dias e meses e o jovem em pas­seios a cavalo. Passaram-se seis meses e um dia o avô lhe aparece: 

— Ai! Meu neto ingrato e cruel! Não tivestes piedade do teu desgraçado avô... Onde está o que me prometestes? Por tua causa estou pa­decendo horrivelmente nas chamas do purgatório, mas Deus teve piedade de mim e hoje mesmo vou para o céu. Por justo castigo de Deus deverás sofrer no purgatório as penas que me faltam, e morreras logo.

Poucos dias depois o jovem caia doente e em es­tado grave. Mandou chamar um sacerdote, fez uma boa confissão e narrou-lhe a aparição e a sua falta. Morreu piedosamente e na certeza de ir padecer no purgatório o sofrimento de que foi causa ao pobre avô, pelo descuido em cumprir suas últimas vontades.

Não defraudemos os mortos! A causa dos mor­tos está entregue à Justiça de Deus!

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