domingo, 14 de setembro de 2014

Viva Putin 'cristão'
































Por Raphael de la Trinité



Repete-se todo o esquema da Segunda Guerra Mundial.


Como Hitler é contra as 'democracias liberais' e a 'ordem mundial capitalista', é preciso [SIC!] apoiá-lo, ainda que isso redunde num favorecimento do comunismo. Já naquela época, Hitler dizia (Goëring e outros, também) que o comunismo aplainara o caminho, fora uma preparação para o nazismo. Hitler foi muito claro a respeito: 'Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Socializamos os homens’ (Adolfo Hitler, apud Hermann Rauschning, ‘Hitler m´a dit’, Coopération, Paris 1939, pp. 218-219). Mesmo assim, legiões de pessoas que se afirmavam anticomunistas, sem pestanejar, entoavam a cantilena suicida: Hitler é a solução!

Também o Führer, naqueles idos, era visto como uma espécie de ‘novo’ Carlos Magno. Afinal, defendia a 'ordem', falava em deus, reportava-se às religiões da suástica (alguns altos dignitários foram iniciados nos cultos tibetanos) e nos brumosos mitos pagãos do Valhalla (mais ou menos como, hoje, Putin dá a entender que pretende restaurar o 'passado mítico' russo). Mais. O Führer acenava para a volta da monarquia alemã, criticava a 'degeneração moral' do Ocidente (embora as SAsNazistas, de Ernst Röhm, fossem uma pepineira de arruaceiros homossexuais, que Hitler houve por bem, para efeito de propaganda, extinguir depois, via massacre programado) e tivesse assinado uma Concordata com a Igreja Católica (que, tão logo quanto possível, violaria de forma acintosa, perseguindo violentamente os católicos).

Inovando pouco em relação ao quadro da Segunda Guerra Mundial, também agora Putin se apresenta como um velho 'cristão', meio disfarçado nas ‘operosas’ fileiras da KGB... Aliado, pois, da 'renovada' Igreja autodenominada ortodoxa russa, que, sem muitos disfarces, fez aliança aberta com os comunistas, após a Revolução bolchevista de 1917, e que, servindo docilmente aos manejos publicitários de Moscou, durante décadas atou como força-auxiliar, quase um departamento de propaganda estatal do regime comunista...

A História se repete.

'Nada há de novo sob o sol' (Eclesiastes).

A História é 'mestra da vida'. Enquanto os inteligentes aprendem, os recalcitrantes reproduzem as mesmas lengalengas que já iludiram tantos.

Muito procedente, nessa direção, o comentário do conhecido pensador espanhol Donoso Cortéz: 'o espírito humano tem sede do absurdo e do ridículo'.

Quanto à surrada balela de que a Rússia soviética teria tido um papel heroico na celebrada resistência russa diante do avanço nazista, existe argumentação borbulhante em sentido contrário.

De fato, não fosse pelo apoio descarado do Ocidente, pela entrega de armas, dinheiro e toda espécie de apoio logístico do Ocidente aos ‘aliados’ comunistas (traição manifesta de Churchill, Roosevelt e outros), desde o início da Segunda Guerra, muito provavelmente, a URSS teria sido, sem muito tardar, carta fora do baralho. Manifestação inconfundível dessa inépcia do Exército Vermelho (que sofrera colossais expurgos de seus melhores quadros, por parte do Partido comunista): a imensa dificuldade que experimentara a URSS de Stalin, em 1939, para subjugar... a Finlândia do general Mannerheim!

O próprio tirano vermelho, anos depois, quando houve um avanço decisivo dos alemães, chegou a acreditar que seria deposto por outros comunistas, menos poltrões e fracassados do que ele. E, fazendo jus aos artifícios de sempre, quando as tropas alemãs estavam perto de Moscou, despudoradamente, foi à rádio e fez um apelo: 'Meus filhos, salvemos a SANTA Rússia!'

Nessa mesma ocasião e em circunstâncias sucessivas, lançou toda espécie de promessas lisonjeiras: liberdade, eleições, e assim por diante. Enquanto isso, as populações do Leste aclamavam as tropas alemãs como libertadoras do domínio comunista.

Entretanto, em face das atrocidades inomináveis perpetradas pelos nazistas — os quais intentavam uma espécie de extermínio dos eslavos, tidos por eles como 'raça inferior' —, que se poderia esperar da população, senão que resistisse? Entre dois fogos ou dois déspotas sanguinários, melhor ficar com o da própria raça, sem dúvida... Numa carta, Rosenberg denunciara a absurda política autodestrutiva adotada por Hitler.

Se, pelo contrário, nas regiões da URSS que estavam sendo 'libertadas', Hitler tivesse formado governos provisórios e tratado bem as populações locais, é inconteste que teria levado de roldão Stalin e apaniguados. Mormente, ao que se crê, caso tivesse desferido desde logo ataque decisivo contra Moscou, não se deixando envolver nas malhas de Stalingrado (conforme opinam não poucos estrategistas e estudiosos do assunto).

Stalin chegou a pensar em fugir de Moscou, e criar um governo fantoche num local remoto da Rússia. Por um triz não se concretizou o plano, que poderia haver determinado a debacle do colosso soviético.

TUDO ISSO APARECE DOCUMENTADO, PROCEDENTE ATÉ DOS ARQUIVOS QUE VIERAM A LUME DEPOIS DA IMPLOSÃO DA RÚSSIA SOVIÉTICA (1989). Há uma literatura tão farta sobre isso, que nem haveria tempo para transcrever aqui.

De forma exemplificativa, citemos um livro, dentre dezenas de outros, que demonstram à saciedade o que está referido acima: 'Stálin, os Nazistas e o Ocidente — a Segunda Guerra entre duas paredes', Laurence REES, Larousse do Brasil, São Paulo, 2009.

Apesar disso, eximindo-se da responsabilidade de se informar, estudar e analisar os acontecimentos, adeptos da hilariante (tragicômica) ‘mise-en-scène’ Viva Putin 'cristão' irrompem desinibidos. Simplesmente difundem chavões, ditos primários e grosseiros, fazem propaganda tosca e inconsequente do que apregoam ser a nova 'anti' ordem mundial — algo que, reduzido a miúdos, não é muito diverso do mesmo conluio de sempre, em prol da república universal, talvez com tintura ou verniz um pouco diverso daquilo que é propalado sob a expressão de 'homem pardo da ONU', conforme o figurino traçado e até aqui vigente.

É possível não perceber que, fundamentalmente, caminham em direção ao mesmo objetivo, apenas com um ziguezague pelo misticismo 'esotérico' de Hitler e apaniguados — desta feita, sob uma exuberante roupagem, colhida talvez das estepes russas? Dugin, Soral, e outros, sem pejo nem meias-medidas, chegam a falar em 'nacional-comunismo'...

Também na época de Hitler dicotomia análoga estava na ordem do dia: enquanto os comunistas falavam em 'luta de classes', os alemães do Terceiro Reich trombeteavam em favor da 'luta de raças'... ‘Grande’ diferença!...

Agora, tendo o comunismo caído de podre, os mentores do chamado pós-comunismo resolveram caiar a parede da casa: que tal uma pitada de religiosidade pelo meio?

Por que, afinal, não trocar o grosseiro materialismo das origens — seco, árido, espinhoso, cruel e assassino —, por uma demão de 'tradicionalismo esotérico'? Não ficaria, assim, mais ‘palatável’ (como se diz comumente), bem mais fácil de digerir, uma pílula furta-cor, qual seja a de um remanejado‘comunismo-religioso’?

Nada do que se afirma aqui é elaboração fátua ou conjetura em torcicolo. Basta pesquisar e confrontar documentos com as realidades de ontem e de hoje — desde que esse cotejo seja feito sem facciosismos nem preconceitos, é claro.

Onde buscar a fórmula? No Ocidente, ninguém duvida de que a Teologia da Libertação (a qual, conforme definiu o ex-frei Boff, é ‘marxismo na Teologia’) constitui o modelo ou parâmetro ideal para isso. Por que não estender aos Urais essa convidativa e desconcertante simbiose comunista-cristã?

No dolorosíssimo caso da Rússia, tendo sido a população aparvalhada e robotizada por décadas de doutrinação ateia, que de melhor do que lhes proporcionar alguma ilusão de ordem mística, dado que o povo é altamente sentimental e fatalista? Sim, no fundo, anseiam por um Czar, isto é, por alguém que simbolize aquela legitimidade que lhes foi roubada após o satânico massacre da Família Imperial russa.

Por que, então, não excogitar uma figurinha da KGB travestida de 'czar pós-moderno', arauto das 'antigas tradições’, cultivadas com esmero pelos velhos camponeses russos? Nada como um bom tempero para uma comida requentada há décadas, que já ninguém conseguia deglutir...

Dado que, obviamente, os arautos da hilariante (tragicômica) ‘mise-en-scène’ Viva Putin 'cristão' se acham desprovidos de argumentos concludentes, pois diametralmente oposto à evidência dos fatos, como respondem ao serem interpelados? Ficam apenas em acrobacias ou piruetas de linguagem, que a ninguém convence.

A isso se circunscreve o ‘debate'.

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