HAVERÁ ALGUÉM TÃO INGÊNUO E SIMPLÓRIO QUE NÃO SEJA CAPAZ DE DISCERNIR QUE, soltando-se ainda mais as amarras dos(já tão frouxos) liames matrimoniais— mediante uma PERIGOSA 'simplificação' e 'aceleração' dos processos —, TAL INCOMPREENSÍVEL AÇODAMENTO SÓ TENDERÁ A FAVORECER A PROLIFERAÇÃO AD INFINITUM DE CONTROVERSAS ‘DECLARAÇÕES DE NULIDADE’?
*** * ***
TEXTO REFORMULADO,
COM RETIFICAÇÕES E ACRÉSCIMOS
RAPHAEL DE LA TRINITÉ
É certo que GRANDE PARTE DOS QUE CONTRAEM MATRIMÔNIO, FAZEM-NO SEM CONHECER
DEVIDAMENTE O QUE ESTÃO REALIZANDO.
Entretanto, pergunta-se: a que se deve essa gravíssima lacuna?
PRECISAMENTE ao fato de que, depois do Vaticano II, O CLERO DEIXOU DE
ENSINAR TODA A VERDADE A RESPEITO DO SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO, COMO, ALIÁS, TAMBÉM
DE VÁRIOS OUTROS PONTOS DA FÉ E DA MORAL.
‘Foram difundidas verdadeiras heresias, no campo dogmático e moral,
criando dúvidas, confusões e rebeliões (...) [caminha-se para um] cristianismo
sociológico, sem dogmas definidos e sem moral objetiva"(João Paulo II, L' Osservatore Romano, 7-2-81).
A fé se estabelecia sobre certezas. Abalando-as, semeou-se a
perplexidade.
Esta, por sua vez, nutriu-se da ambiguidade, das contemporizações, das
negações e dos subterfúgios, nos casos em que não houve manifesta distorção dos
princípios basilares de nossa santa Religião.
Vejamos em que termos o Papa Bento XVI retrata, de forma bem sugestiva,
essa ruína do ensinamento católico, após a hecatombe pós-conciliar: “OS
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DA FÉ, QUE NO PASSADO TODA CRIANÇA SABIA, SÃO CADA VEZ
MENOS CONHECIDOS” (Alocução da quinta-feira santa, 5 de abril de 2012). Mais recentemente,
o Cardeal Burke afirmou, em sentido análogo: “NÃO COMBATEMOS ADEQUADAMENTE OS
ERROS MODERNOS, PORQUE NÃO NOS FOI ENSINADA A FÉ CATÓLICA (…). UMA FALÊNCIA DA
CATEQUESE, OU SEJA, DA CATEQUESE (…) REALIZADA NOS ÚLTIMOS 50 ANOS” (http://www.ilfoglio.it/soloqui/19951; grifos nossos) [cumpre observar
que a referência aos últimos cinquenta anos coincide exatamente com o período
pós-conciliar].
O futuro Papa Bento XVI, que, em 1984, fez referência ao desastre do ensino catequético, reafirmou, em 2003, que nada mudara nesse ponto de importância capital (sem dúvida, capítulo decisivo do processo de “autodemolição” da Igreja, apontado em 1968 por Paulo VI).
Expondo a necessidade de ensinar [adequadamente] o catecismo, o então Cardeal Ratzinger reitera: “Embora sem intenção de condenar a ninguém, TORNA-SE PATENTE QUE A AUSÊNCIA DE CONHECIMENTOS EM MATÉRIA DE RELIGIÃO É HOJE UMA REALIDADE TREMENDA. BASTA FALAR COM AS NOVAS GERAÇÕES [PARA NOS DARMOS CONTA DISSO]. EVIDENTEMENTE, APÓS O CONCÍLIO NÃO CONSEGUIRAM TRANSMITIR CONCRETAMENTE O QUE ESTÁ CONTIDO NA FÉ CRISTÔ (Cfr. “La Razón”, edicióndel 28 de mayo del 2003. www.conoze.com/doc.php?doc=1806; grifos nossos).
Numa visão global sobre a devastação operada no período pós-conciliar, o mesmo Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, teve estas significativas palavras:
"Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e depois de Paulo VI [...] Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que — para usar as palavras de Paulo VI — pareceu passar da autocrítica à autodemolição. ESPERAVA-SE UM NOVO ENTUSIASMO E, EM LUGAR DELE, ACABOU-SE COM DEMASIADA FREQUÊNCIA NO TÉDIO E NO DESÂNIMO. ESPERAVA-SE UM SALTO PARA A FRENTE E, EM VEZ DISSO, ENCONTRAMO-NOS ANTE UM PROCESSO DE DECADÊNCIA PROGRESSIVA”(Cfr. Vittorio Messori, “A coloquioconilcardinaleRatzinger, Rapportosulla fede”, EdizioniPaoline, Milano, 1985, pp. 27-28; grifos nossos).
O futuro Papa Bento XVI, que, em 1984, fez referência ao desastre do ensino catequético, reafirmou, em 2003, que nada mudara nesse ponto de importância capital (sem dúvida, capítulo decisivo do processo de “autodemolição” da Igreja, apontado em 1968 por Paulo VI).
Expondo a necessidade de ensinar [adequadamente] o catecismo, o então Cardeal Ratzinger reitera: “Embora sem intenção de condenar a ninguém, TORNA-SE PATENTE QUE A AUSÊNCIA DE CONHECIMENTOS EM MATÉRIA DE RELIGIÃO É HOJE UMA REALIDADE TREMENDA. BASTA FALAR COM AS NOVAS GERAÇÕES [PARA NOS DARMOS CONTA DISSO]. EVIDENTEMENTE, APÓS O CONCÍLIO NÃO CONSEGUIRAM TRANSMITIR CONCRETAMENTE O QUE ESTÁ CONTIDO NA FÉ CRISTÔ (Cfr. “La Razón”, edicióndel 28 de mayo del 2003. www.conoze.com/doc.php?doc=1806; grifos nossos).
Numa visão global sobre a devastação operada no período pós-conciliar, o mesmo Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, teve estas significativas palavras:
"Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, a começar do papa João XXIII e depois de Paulo VI [...] Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica e, pelo contrário, se caminhou para uma dissensão que — para usar as palavras de Paulo VI — pareceu passar da autocrítica à autodemolição. ESPERAVA-SE UM NOVO ENTUSIASMO E, EM LUGAR DELE, ACABOU-SE COM DEMASIADA FREQUÊNCIA NO TÉDIO E NO DESÂNIMO. ESPERAVA-SE UM SALTO PARA A FRENTE E, EM VEZ DISSO, ENCONTRAMO-NOS ANTE UM PROCESSO DE DECADÊNCIA PROGRESSIVA”(Cfr. Vittorio Messori, “A coloquioconilcardinaleRatzinger, Rapportosulla fede”, EdizioniPaoline, Milano, 1985, pp. 27-28; grifos nossos).
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O papel do católico
militante
Perante esse quadro de formidável e insanável crise, o que fazer?
Diante disso, não pode o fiel calar-se, segundo ensina Dom Guéranger: "Quando o pastor se transforma em lobo, é ao rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se. Normalmente, sem dúvida, a doutrina desce dos Bispos para o povo fiel, e os súditos, no domínio da Fé, não devem julgar seus chefes. Mas HÁ, NO TESOURO DA REVELAÇÃO, PONTOS ESSENCIAIS, QUE TODO CRISTÃO, EM VISTA DE SEU PRÓPRIO TÍTULO DE CRISTÃO, NECESSARIAMENTE CONHECE E OBRIGATORIAMENTE HÁ DE DEFENDER. O PRINCÍPIO NÃO MUDA, QUER SE TRATE DE CRENÇA OU PROCEDIMENTO, DE MORAL OU DE DOGMA. [...]. OS VERDADEIROS FIÉIS SÃO OS HOMENS QUE EXTRAEM DE SEU BATISMO, EM TAIS CIRCUNSTÂNCIAS, A INSPIRAÇÃO DE UMA LINHA DE CONDUTA; NÃO OS PUSILÂNIMES" (12). (D. ProsperGuéranger, “L'annéeliturgique, Le temps de laSeptuagésime, fête de Saint Cyrille d’Alexandrie”, p. 321; grifos nossos).
Diante disso, não pode o fiel calar-se, segundo ensina Dom Guéranger: "Quando o pastor se transforma em lobo, é ao rebanho que, em primeiro lugar, cabe defender-se. Normalmente, sem dúvida, a doutrina desce dos Bispos para o povo fiel, e os súditos, no domínio da Fé, não devem julgar seus chefes. Mas HÁ, NO TESOURO DA REVELAÇÃO, PONTOS ESSENCIAIS, QUE TODO CRISTÃO, EM VISTA DE SEU PRÓPRIO TÍTULO DE CRISTÃO, NECESSARIAMENTE CONHECE E OBRIGATORIAMENTE HÁ DE DEFENDER. O PRINCÍPIO NÃO MUDA, QUER SE TRATE DE CRENÇA OU PROCEDIMENTO, DE MORAL OU DE DOGMA. [...]. OS VERDADEIROS FIÉIS SÃO OS HOMENS QUE EXTRAEM DE SEU BATISMO, EM TAIS CIRCUNSTÂNCIAS, A INSPIRAÇÃO DE UMA LINHA DE CONDUTA; NÃO OS PUSILÂNIMES" (12). (D. ProsperGuéranger, “L'annéeliturgique, Le temps de laSeptuagésime, fête de Saint Cyrille d’Alexandrie”, p. 321; grifos nossos).
Ouçamos, neste particular, ainda uma vez, as esclarecedoras palavras do
Papa Emérito, Bento XVI, quando ainda Cardeal: "A IGREJA PÓS-CONCILIAR
TORNOU-SE UM GRANDE ESTALEIRO. MAS É UM ESTALEIRO DO QUAL SE PERDEU O PROJETO E
TODOS CONTINUAM A CONSTRUIR SEGUNDO O SEU GOSTO”.(Card. Joseph RATZINGER,
Rapportosulla Fede, Entrevistado por Vittorio Messori, EdizioniPaoline, Milão,
1985, pp. 27-28; destaques e negrito nossos).
A indagação é evidente: PODE HAVER CONFISSÃO DE MAIS ROTUNDO FRACASSO?
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O ‘estaleiro’ da
Igreja pós-conciliar
Será essa a mais recente novidade do ‘estaleiro’ da Igreja pós-conciliar
— ou seja, ‘facilitar’ a declaração de ‘nulidade matrimonial’?
Não há como, em sã consciência, escapar ao trágico paralelo: há cinco
séculos, Lutero investiu contra erros e abusos existentes em profusão no
Episcopado e na Cúria Romana. Alegava, então, o heresiarca que havia abusos na
Igreja, sendo, pois, imprescindível suprimi-los. De fato, porém, o que fez
Lutero?
Desferiu golpe contra a Igreja, atribuindo todo o mal à instituição do
papado, contra a qual se rebelou. Os abusos não passaram de pretexto para a sua
sedição monstruosa.
Nos dias atuais, como Francisco pretende sanar erros e abusos que
desfiguram o matrimônio católico?
Removendo, em tese, óbices, delongas e etapas que dificultam o rápido
reconhecimento de que, em muitos casos, não houve casamento. Em suma, supostos
ou reais erros e abusos. Contudo, qual o clima reinante na Igreja atual?
DISSEMINA-SE O ERRO DE QUE A FÉ SE BASEIA EM UM SENTIMENTO INTERIOR. Era,
por exemplo, o que já propugnava Maurice Blondel, filósofo "católico"
que aderiu ao modernismo, heresia condenada por São Pio X, na Pascendi, no
início do século 20. SENDO ASSIM, AO INVÉS DA CATEQUESE TRADICIONAL, O QUE
IMPORTA É ATENDER ÀS ASPIRAÇÕES PSICOLÓGICAS DO HOMEM MODERNO. De fato, quantos
são hoje os que falam na vida sobrenatural ou na necessidade de mortificar as
paixões? Pelo contrário, a ênfase é na felicidade já, aqui, e a todo preço. Os
grandes doutores da Igreja — Santo Tomás, Santo Agostinho, São João da Cruz,
Santa Teresa de Ávila, Santo Afonso de Ligório —, na mente de muitos católicos
neomodernistas, foram substituídos por JUNG, FREUD, SCHELLER, HUSSERL (AUTORES
NÃO CATÓLICOS E, EM GRANDE MEDIDA, MILITANTEMENTE ANTICATÓLICOS), ALÉM DE
NOÇÕES CORRIQUEIRAS TIRADAS DO CAMPO DO MARKETING, OU DA PSICOLOGIA APLICADA,
ETC... A ISSO MUITOS DENOMINAM ‘PISCOLOGISMO’.
Alguém, em sã consciência, pode ser levado a crer que muitos não
entendam o Motu Proprio como um sinal verde para que o critério supracitado
passe a servir, quase oficialmente, como baliza NO SENTIDO DE AFIRMAR QUE ESTES
OU AQUELES,‘NÃO GOZANDO DE CERTAS CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS’, TERIAM CONTRAÍDO NÚPCIAS
ILEGITIMAMENTE?
‘A história é
mestra da vida’
Aqui vai o paralelo: HÁ MUITO QUE RECEAR que, após algum tempo de
aplicação do Motu Proprio do Papa Francisco sobre ‘nulidade matrimonial’, nos
deparemos, em presença do matrimônio, com situação semelhante àdo processo
desencadeado por Lutero contra a Igreja, em consequência de sua insurreição.
Noutros termos, assim como Lutero ensejou a proliferação de seitas que
se entrechocavam, também não é nada improvável que o que resta do matrimônio católico
acabe em frangalhos, cada qual com sua ‘concepção’ particular de matrimônio.
Objetivamente falando, o resultado prático bem pode não sermuito diverso.
Noutros termos, há certas iniciativas que, vendo o mal só pela rama, agravam-lhe
a profundidade e extensão.
Lutero afirmava: há abusos sem fim na Cúria Romana — papas que causam indizíveis
escândalos; péssimo comportamento de eclesiásticos muito bem colocados no
Vaticano, e assim por diante.
O que fazer, diante disso?
Ao ver que o edifício eclesiástico apresentava graves rachaduras, pura e
simplesmente, Lutero resolveu lançar mão da picareta, em seu intento sacrílego
de derrubar a construção divina...
Pouco tempo depois da revolta luterana, houve um Papa -- Adriano VI – que,
entretanto, declarou:(...) “não é de espantar que a enfermidade se tenha
propagado da cabeça aos membros, DESDE O PAPA ATÉ AOS PRELADOS.NÓS TODOS,
PRELADOS E ECLESIÁSTICOS, NOS AFASTAMOS DO CAMINHO RETO, E JÁ HÁ MUITO NÃO HÁ
UM QUE PRATIQUE O BEM... (...) E ACONTECERÁ QUE, ASSIM COMO A ENFERMIDADE POR
AQUI COMEÇOU, TAMBÉM POR AQUI COMECE A SAÚDE (...)”.
Um documento memorável, nesse sentido, foi a instrução do Papa Adriano
VI (1522-1523), lida pelo Núncio pontifício Francisco Chieregati aos Príncipes
alemães reunidos em dieta, em Nuremberg, em 3 de janeiro de 1523.
Transcreve largos trechos desse documento o historiador austríaco Ludwig
von Pastor, em sua obra célebre "Geschichte der papste" – História
dos Papas (LUDOVICO PASTOR, Historia de los Papas, Editorial Gustavo Gili,
Barcelona, 1952, tomo IV, vol. IX, pp. 107 a 109 / Imprimase: El Vicario
General José Palmarolla, por mandato de SuSeñoria, L.c. Salvador Carreras,
Pbro., Strio, Canc.)
Leiamos alguns trechos a seguir, para que se conheça melhor o contexto
de tal terrível declaração: "Deves (dirige-se o Pontífice ao Núncio
Chieregati) dizer também que RECONHECEMOS LIVREMENTE HAVER DEUS PERMITIDO ESTA
PERSEGUIÇÃO À SUA IGREJA, POR CAUSA DOS PECADOS DOS HOMENS, E ESPECIALMENTE DOS
SACERDOTES E PRELADOS, pois de certo não se encurtou a mão do Senhor para nos
salvar; mas são nossos pecados que nos afastam dEle, de modo que não nos ouve
as súplicas. A SAGRADA ESCRITURA ANUNCIA CLARAMENTE QUE OS PECADOS DO POVO TÊM
ORIGEM NOS PECADOS DOS SACERDOTES, E POR ISTO, COMO OBSERVA (SÃO JOÃO)
CRISÓSTOMO, NOSSO DIVINO SALVADOR, QUANDO QUIS PURIFICAR A ENFERMA CIDADE DE
JERUSALÉM, DIRIGIU-SE EM PRIMEIRO LUGAR AO TEMPLO, PARA REPREENDER ANTES DE
TUDO OS PECADOS DOS SACERDOTES; E NISSO IMITOU O BOM MÉDICO, QUE CURA A DOENÇA
EM SUA RAIZ. BEM SABEMOS QUE, MESMO NESTA SANTA SÉ, HA JÁ ALGUNS ANOS VEM
OCORRENDO, MUITAS COISAS DIGNAS DE REPREENSÃO; ABUSOU-SE DAS COISAS
ECLESIÁSTICAS, QUEBRANTAM-SE OS PRECEITOS, CHEGOU-SE A TUDO PERVERTER. ASSIM,
NÃO É DE ESPANTAR QUE A ENFERMIDADE SE TENHA PROPAGADO DA CABEÇA AOS MEMBROS,
DESDE O PAPA ATÉ AOS PRELADOS.NÓS TODOS, PRELADOS E ECLESIÁSTICOS, NOS
AFASTAMOS DO CAMINHO RETO, E JÁ HÁ MUITO NÃO HÁ UM QUE PRATIQUE O BEM. Por isso
devemos todos glorificar a Deus e nos humilharmos em sua presença; que cada um
de nós considere por que caiu, e se julgue a si mesmo, ao invés de esperar a
justiça de Deus no dia de sua ira. Por isto (igualmente) deves tu prometer em
nosso nome que estamos resolvidos a empregar toda a diligência a fim de que, em
primeiro lugar, seja reformada a Corte romana, da qual talvez se tenham
originado todos esses danos; E ACONTECERÁ QUE, ASSIM COMO A ENFERMIDADE POR
AQUI COMEÇOU, TAMBÉM POR AQUI COMECE A SAÚDE. Nós nos consideramos tanto mais
obrigados a levar isto a bom termo, quanto todo o mundo deseja semelhante
reforma. Porém não procuramos nossa dignidade pontifícia (o Papado que
Adriano VI exerce), e de mais bom grado teríamos terminado na solidão da vida privada
nossos dias; de bom grado teríamos recusado a tiara, e só o temor de Deus, a
legitimidade da eleição e o perigo de um cisma nos determinaram a aceitar o
supremo munus pastoral. Em consequência, queremos exercê-lo não por ambição de
mando, nem para enriquecer nossos parentes, mas para restituir à Santa Igreja,
Esposa de Deus, sua antiga formosura, prestar auxilio aos oprimidos, elevar os
varões sábios e virtuosos, e genericamente fazer tudo o que compete a um bom
pastor e verdadeiro sucessor de São Pedro (...)”.
*** *** ***
O divórcio ‘católico’
Aqui está bem expresso o papel precípuo de um Pontífice: é o de
CONSTRUIR, EDIFICAR, SANAR O MAL PELA RAIZ, EM CONTINUIDADE COM O QUE VEM SENDO
FEITO HÁ DOIS MIL ANOS.
Ora, está em que condições a família, nos dias atuais?
Praticamente exangue. Não será, pois, com ‘simplificações’ e nebulosas
casuísticas que o vínculo matrimonial sairá reforçado de toda essa refrega. As
rachaduras nessa sagrada instituição são por demais visíveis para que não se
tema que uma machadada afoita ponha abaixo o que ainda resta da fidelidade
conjugal em âmbitos católicos.
Ou, por acaso, HAVERÁ ALGUÉM TÃO INGÊNUO E SIMPLÓRIO QUE NÃO SEJA CAPAZ
DE DISCERNIR QUE, soltando-se ainda mais as amarras dos(já tão frouxos) liames
matrimoniais— mediante uma PERIGOSA 'simplificação' e 'aceleração' dos
processos —, TAL INCOMPREENSÍVEL AÇODAMENTO SÓ TENDERÁ AFAVORECER A PROLIFERAÇÃO
AD INFINITUM DE CONTROVERSAS ‘DECLARAÇÕES DE NULIDADE’?
Com efeito, embora tanto João Paulo II como Bento XVI, em seus discursos
à Rota Romana (1987 e 2009, respectivamente, Discurso de João Paulo II à Rota Romana
em 1987 (em italiano)
Discurso de Bento XVI à Rota Romana em 2009
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2009/january/documents/hf_ben-xvi_spe_20090129_rota-romana_po.html)), tenham advertido
contra A TENTAÇÃO DE CONSIDERAR COMO IMPEDIMENTO (PORTANTO, COMO CASOS
PASSÍVEIS DE ‘DECLARAÇÃO DE NULIDADE’) QUALQUER DIFICULDADE DE CUNHO
PSICOLÓGICO (O QUE LEVARIA A CONSIDERAR NULO PRATICAMENTE TODO CASAMENTO),ninguém
ousaria negar a existência de uma forte tendência nesse sentido. Não raro,
sobretudo nos EUA, propaga-se ser essa uma variante do que se entende por
divórcio, isto é, uma espécie de divórcio ‘católico’!
Numa palavra, por via dos fatos, deslizando-se, precipício abaixo, chega-se
a aprovar aquilo que, de si, é moralmente inaceitável.
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A ‘fumaça’ de
Satanás, que asfixia...
Há mais de quatro décadas, o Papa Paulo VI advertiu que a fumaça de
Satanás penetrara na Igreja (Cfr. Alocução Resistite fortes in fide, 29 de
junho de 1972, in Insegnamentidi Paolo VI, Poliglotta Vaticana, vol. 10, pp.
707-709). Disse também que a Igreja estava passando por um misterioso processo
de autodemolição (Cfr. Alocução aos estudantes do Pontifício Seminário Lombardo, de 7 de
dezembro de 1968, in Insegnamentidi Paolo VI, vol. 6, p. 1188).
Essa fumaça de Satanás também espalhou o relativismo intelectual e moral
por toda a Igreja, com reflexos em toda a sociedade. Aliás, até hoje, alguém
fez um esforço de análise sério, vigoroso, decisivo, meticuloso, para nos
livrar da asfixia dessa fumaça satânica e dos abalos sísmicos no sacrossanto edifício
da Igreja?
Eis o fundo de quadro que deve nortear todo e qualquer esforço para o
reerguimento de nossa vida religiosa e moral. A fortiori, do matrimônio
monogâmico e indissolúvel, que estertora.
A única ‘reforma’
cabível: ensinar a verdade inteira
Não cabe alegar, como escusa:o povo está mal informado ou mal preparado
acerca do matrimônio. Logo, as recentes medidas do papa Francisco se fazem
necessárias como um mal menor.
NESTE PARTICULAR, SENDO REFERIDA IGNORÂNCIA O GRANDE MAL A SER COMBATIDO
— e isso é inconteste —, debele-se a causa: QUE SEJA RESTABELECIDO POR INTEIRO
O ENSINAMENTO CATÓLICO SOBRE O MATRIMÔNIO, DE TODAS AS CÁTEDRAS, DE TODOS OS
PÚLPITOS, EM TODOS OS LIVROS, POR TODOS OS MEIOS CABÍVEIS.
Com efeito, a missão do Clero — ensina São Pio X — é governar, ensinar e
santificar. Dado que o povo fiel nãovem recebendo o pão da verdade, de quem a
responsabilidade maior?
AS PALAVRAS DE BENTO XVI FALAM POR SI.
O mal campeia desde cima, a começar pelos Papas, passando por todos os graus
intermediários da Hierarquia, até as últimas ramificações.
Só por aí faz sentido começar a retificação dos desastrados rumos.
***
*** ***
Daqui, todavia, provém uma
palavra de alento: trata-se de algo que NUNCA NOS DEMOVERÁ DA CERTEZA DA
VITÓRIA.
Por maiores que sejam as
crises com que se defronte a Igreja, é preciso perseverar na Fé, crendo
firmemente na PROMESSA DE NOSSO SENHOR, DE QUE AS PORTAS DO INFERNO NÃO
PREVALECERÃO CONTRA A IGREJA: “ET PORTAE INFERI NON PRAEVALEBUNT ADVERSUS EAM”
(MT 18, 16).
Em honra da Natividade da
Bemaventura Virgem Maria Mãe de Deus
2015
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