domingo, 3 de agosto de 2014

A Origem das Espécies




DESTAQUE

MARX: as raças mais fortes (as revolucionárias) deveriam realizar sua tarefa, enquanto “a principal tarefa de todas as outras raças e povos, grandes e pequenos, é perecer no holocausto revolucionário”. — Karl Marx, “Die Neue Rheinische Zeitung”, janeiro de 1849, in “Journal of the history of ideas”, vol. 42, nº 1, 1981;www.churchinhistory.org/pages/booklets/roots%28n%29-2.htm


O movimento nazista adotou freneticamente o evolucionismo e o eugenismo, e foi mais fidedigno à cartilha darwinista do que o marxismo. Em 1933, ordenou a esterilização de nove tipos de “doentes”, entre os quais os cegos, os alcoólatras e os esquizofrênicos! Calcula-se que 400.000 esterilizações foram praticadas pelo III Reich, na Alemanha e territórios ocupados. Um decreto secreto de 1940 obrigava as mulheres “inferiores” a abortar. O extermínio das “raças inferiores” e os esforços para produzir o “ariano puro” – a “raça superior” – são bem conhecidos.

Darwin também é tido como um dos fundadores do ecologismo, que exalta a vida tribal animalesca “integrada” numa natureza em perpétua evolução.

Por certo, os atuais sequazes de Darwin deblateram contra as monstruosas consequências que o nazismo tirou do evolucionismo. Contudo, não é certo que manteriam essa linguagem caso o nazismo tivesse ganhado a II Guerra Mundial... De fato, após a conflagração, o eugenismo escorado no evolucionismo prosseguiu, e está no cerne das campanhas contra a vida. Os pretextos continuam os mesmos: impedir que nasçam crianças com defeitos graves, economicamente insustentáveis ou simplesmente “indesejadas”.

Na trilha da utopia eugenista, a engenharia genética promete produzir um “bebê perfeito”, sem defeitos nem doenças. Mais ainda, ela tenta fabricar uma criança com coeficiente de inteligência, olhos e qualidades ideais. Segundo o Dr. Jacques Testart, pioneiro dos métodos de fecundação in vitro e defensor do evolucionismo, essa tendência prepara a gestação em laboratório de uma “nova humanidade”, e esse novo homem poderia ser chamado “homo geneticus”, que acabaria substituindo o “homo sapiens”, fase atual e provisória do homem na cosmovisão evolucionista. O sonho da “criança perfeita” a todo custo, segundo observa o jornalista científico Michel Alberganti, leva a tentar produzir uma “vida inventada de cabo a rabo”. Então a procriação será uma tarefa de laboratórios, e não mais de pais e mães. Nesse dia a família sofrerá um golpe mortal, pois lhe terá sido tirada sua finalidade primordial. A maternidade não existirá mais, e a Encarnação do Verbo parecerá um procedimento de uma espécie superada. O que será do homem rompido tão radicalmente com a Lei de Deus? A quem ele apelará na hora da angústia ou da necessidade? As perspectivas são “aterrorizantes para alguns” e “fascinantes para outros”, diz Alberganti.

O filósofo Jean-Michel Besnier, professor da Sorbonne-Paris IV, explica que o “pós-humano” “começou com a idéia de acabar com o determinismo dos nascimentos, pela aparição da pílula e do bebê de proveta”, ele acrescenta nessa linha a procriação assistida, a gestação em laboratório e a clonagem humana: “A utopia pós-humana imagina o fim da história natural da humanidade, tal como foi elaborada pela evolução. No fundo, essa utopia pretende [...] assumir a função da natureza”. Besnier acrescenta ainda que “o protótipo [do “pós-humano”] é o cyborg aparecido nos anos 60, [...] organismos biomecânicos dotados de próteses, vivendo em condições não-terrestres, adotados de faculdades novas que superam os limites humanos. Cyborgs, novos seres, que não evoluirão mais segundo as leis dos seres vivos”.  Escritores saídos de laboratórios de nanotecnologias, inteligência artificial e cibernética“se perguntam quais criaturas inumanas vão nos suceder, e imaginam formas de vida radicalmente inéditas” (17).



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Por que muitos evolucionistas de destaque insistem que a macroevolução é um fato? Richard Lewontin, um influente evolucionista, escreveu candidamente que muitos cientistas estão dispostos a aceitar afirmações científicas não comprovadas “porque já [assumiram] outro compromisso, um compromisso com o materialismo”. Muitos cientistas se recusam até mesmo a considerar a possibilidade de que exista um Projetista inteligente porque, como escreve Lewontin, “não podemos permitir que a ciência abra a porta à idéia de um Deus” (15).

Nesse respeito, o renomado sociólogo americano Rodney Stark é citado na revista Scientific American como tendo dito: “Há 200 anos se propaga a idéia de que, se você quer ser um cientista, tem de manter a mente livre dos grilhões da religião”. Ele disse ainda que nas universidades em que se faz pesquisa “os religiosos ficam de boca fechada” (16). A pressão, a discriminação, e a perseguição de grupos organizados no meio acadêmico contra aqueles que acreditam em Deus tem se tornado uma prática terrorista. Existem grupos financiados por inimigos da religião que são tremendamente fanáticos e fundamentalistas.



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A Origem das Espécies


Charles Darwin (1809-1882) nasceu numa abastada família inglesa. Estudou ciências naturais nas universidades de Edimburgo e Cambridge. Ainda jovem, empreendeu uma viagem de quase cinco anos em volta da Terra (1831-1836). Nela acumulou observações e amostras do reino animal. De retorno à Inglaterra, guardou as anotações embaixo de uma escada. As crianças da casa arrancavam as folhas para brincar.


 Mais de vinte anos depois, o naturalista Alfred Russel Wallace (1823-1913) mostrou a Darwin o livro que ia publicar, com idéias próximas às dele. Darwin recuperou então as velhas anotações, ordenou-as e publicou-as. Surgiu assim, há 150 anos, A Origem das Espécies.

Contrariamente à saga corrente, a viagem não mudou a atitude de Darwin em face de Deus. Por exemplo, após entrar numa floresta brasileira, escreveu: “Não era possível formar-se uma idéia dos sentimentos de maravilhas, de admiração e de devoção que enchem e encantam o espírito. Lembro-me bem de ter ficado convencido de que no homem há mais do que o simples influxo do corpo” (1).


Darwin torna-se anticristão

Mas o Charles Darwin de A Origem das Espécies mudara completamente em relação ao naturalista expedicionário. Ele fora criado no protestantismo, tendo depois perdido qualquer vestígio de fé entre 1836 e 1839. Tornou-se agnóstico e visceralmente contrário ao cristianismo. Em sua Autobiografia, narra como se voltou contra o Deus da Bíblia. Tal confissão de apostasia é tão chocante, que seus descendentes impediram a divulgação. Ela só veio a lume numa edição de 1958, onde afirma num trecho censurado; “De fato, dificilmente posso admitir que alguém pretenda que o cristianismo seja verdadeiro; pois, se assim fosse, as Escrituras indicam claramente que os homens que não creem – isto é, meu pai, meu irmão e quase todos os meus melhores amigos – serão punidos eternamente. E isto é uma doutrina condenável”.

Ele optou por um sentimentalismo relativista e vago, que levou até as últimas consequências; implicou com a lógica ordenada da moral evangélica, que tem na Igreja Católica sua autêntica realização; repeliu os movimentos de alma ordenados que lhe inspiravam as cenas grandiosas da natureza; pois percebeu “que estavam intimamente ligados à crença em Deus”. Rompendo com sua admiração pela floresta brasileira, explicou: “Hoje, as cenas mais grandiosas não produziriam em mim nenhuma convicção nem sentimento daquele gênero”.


Anticristianismo e Evolucionismo

Darwin passou a confessar-se agnóstico e a menosprezar acintosamente a Religião. Lê-se em sua Autobiografia: “O Antigo Testamento é manifestante falso, a Torre de Babel, o arco-íris como sinal, etc. Dado que ele atribui a Deus os sentimentos de um tirano vingativo, não é mais digno de confiança que os livros sagrados dos hindus ou as crenças de outros bárbaros. [...] Deixei de acreditar no cristianismo enquanto revelação divina”.

Ele foi abandonando a idéia de um Deus pessoal, e mesmo a existência de uma causa final na natureza: “O velho argumento de uma finalidade na natureza, que outrora me parecia tão concludente, caiu depois da descoberta da seleção natural. [...] Não acredito que haja muito mais finalidade na variabilidade dos seres orgânicos e na ação da seleção natural do que na direção em que sopra o vento”.

Homem e natureza se lhe afiguravam então como meros subprodutos de uma cega fatalidade, que progride rumo ao ignoto. O motor desse processo seriam transformações devidas a acidentes fortuitos e à necessidade. As espécies resultantes, ou mais evoluídas, exterminariam fatalmente as menos evoluídas, mais fracas e inferiores.

Darwin percebeu que, sem um princípio e um fim, o homem ficaria escravo, como um bicho, ao capricho de sua fantasia e de seus instintos: “Um homem que não tem uma crença bem sólida na existência de um Deus pessoal, ou numa existência futura com retribuição e recompensa, não pode ter outra regra de vida, segundo me parece, senão seguir seus impulsos e seus instintos mais prementes, ou que ele acha os melhores”.  Esta conclusão, ele a enfeitou com sentimentos típicos do romantismo vitoriano do século XIX.

Sua crise religiosa, que descambou para a apostasia e para o anticristianismo, correu lado a lado com a explicação do evolucionismo. Então, não é de espantar que o anticristianismo se encontre entranhado no pensamento darwinista e de seus sucessores “neo-darwinistas”, embora pretendam que se trate de meras doutrinas cientificas.


Bombardeou o conceito que o homem tem de si próprio

Diz um dos corifeus darwinistas hodiernos, o Professor Dominique Lecourt, da Universidade da Sorbonne-Paris VII: “Darwin estava bem ciente de que tirava o homem do centro, aproximava-o do animal, e entrava em conflito com a imagem de si próprio. [...] Darwin [...] confessou à sua mulher, muito piedosa, que sua teoria não concordava com o dogma cristão. Ele sabia que tinha fabricado uma bomba” (2). De fato, suas teorias serviram para dinamitar a visão racional da ordem do universo e sua procedência da criação.

Darwin também é tido como um dos fundadores do ecologismo, que exalta a vida tribal animalesca “integrada” numa natureza em perpétua evolução.


Interpretou o conhecido pelo desconhecido

Alfred Russel Wallace e Darwin foram co-inventores da teoria da seleção natural das espécies, peça-chave do evolucionismo. Porém, Wallace manteve a crença numa inteligência diretora que presidiria a luta evolutiva. A partir de 1862, descambou para o espiritismo e o ocultismo. Porém, Darwin permaneceu no agnosticismo naturalista materialista. Entretanto, sua linguagem recende a uma análoga procura de explicação do conhecido pelo desconhecido, pelo oculto. No livro A filiação do homem, ele imagina que o homem descende de algum tipo de símio há tempos desaparecido; este, “provavelmente de um marsupial arcaico”, e este ultimo, de uma ignota “criatura de tipo anfíbio”, por sua vez derivada de um ainda mais inidentificável “animal que se assemelha a um peixe”.

Quanto mais se aprofunda nas suposições de fenômenos inverificáveis, tanto mais Darwin adota uma linguagem próxima à de um adivinhador lendo numa bola de cristal. “Na obscuridade confusa do passado, podemos ver que o primeiro ancestral de todos os vertebrados deve ter sido um animal aquático dotado de brânquias, que possuía os dois sexos reunidos no mesmo individuo, tendo os mais importantes órgãos do corpo (como o cérebro e o coração) imperfeita ou nulamente desenvolvidos. Esse animal parece ter-se assemelhado às larvas dos ascidiáceos marinhos atuais” (3).


Cascata de conjeturas inverificáveis

Os discípulos de Darwin tentaram dar embasamento científico a essa acumulação de “obscuridades confusas do passado”, onde Darwin dizia ler com tanta facilidade. Eles até acrescentaram que, na origem, houve uma célula que teria aparecido há quatro bilhões de anos, batizada de LUCA (Last universal common ancestor, ou derradeiro ancestral comum universal) (4). Mas de onde saiu LUCA? De uma “competição darwiniana” entre células que se eliminaram umas às outras, diz Patrick Forterre, da Sorbonna-Paris XI. E acrescenta que LUCA ter-se-ia dotado de DNA ao ser fecundada por um vírus.

De onde saíram esse vírus, a pré-Luca e outras células engajadas na “competição darwiniana”? Aqui entram mais duas conjeturas dos discípulos. Segundo uma, um meteorito teria trazido as primeiras moléculas vivas a Terra. De acordo com outras, teriam aparecido há bilhões de anos em um “oásis de vida”, perto de fontes hidrotermais, em profundezas oceânicas de milhares de metros. Lá existem escapamentos de lava vulcânica que provocam altas temperaturas e concentrações salinas. As tentativas de reproduzir em laboratório esses hipotéticos caldos de cultura deram em nada.

Acautele-se o leigo em achar que isso parece um “conto de carochinha”! A confraria darwiniana logo o condenará em coro, com execrável“criacionista”, “fundamentalista cristão”, “retardatário” e outros qualificativos tão depreciativos quanto gratuitos.


Recusa do sério debate científico

Muitos cientistas, porém, apontam incongruências e impossibilidades científicas na montagem evolucionista. Apoiam-se em numerosos estudos nos mais variados campos das ciências naturais, e sustentam que o estudo sério e metódico dos seres vivos e da estrutura do universo postula a existência de um “plano inteligente” (“intelligent design”, em inglês), que preside a aparição dos seres vivos e a ordenação dos seres.

Nas ciências, é frequente haver correntes que desafiam o consenso dominante. As oposições que assim nascem são tidas como estímulo para testar as teses geralmente aceitas e depurá-las. Porém, o establishment evolucionista move implacável campanha de desqualificação, banindo de congressos as publicações científicas que defendem o intelligent design. Exemplo paradigmático disso foi a Conferência Internacional Biological Evolution, Facts and Theories, promovida neste ano pela Universidade Gregoriana de Roma, um dos máximos centros de ensino católico na capital da Cristandade.  

Participaram na Conferência – que não engajava a autoridade da Santa Sé – eminências do evolucionismo, das mais militantemente atéias e anticristãs, como Richard Darkins. Mas nenhum defensor do “intelligent design” foi admitido, embora essa corrente aceite certo evolucionismo (5).

O evolucionismo não responde aos argumentos científicos do “intelligent design”, apenas os menospreza como “forma mais moderna de criacionismo”. Contudo, o “intelligent design”, que não se identifica com o criacionismo católico, parece prestar-se a um entendimento com o conjunto das ciências, e talvez com a boa teologia.


Evolucionismo se radicaliza

A cada dia o evolucionismo perde adeptos. O otimismo do século XIX pelo progresso indefinido feneceu, e a medula anticristã do darwinismo tornou-se cada vez mais aparente. “Muitos só queriam ver na teoria de Darwin o braço armado do ateísmo”, explica o filósofo das ciências Thomas Lepelthier, da Universidade de Oxford. “Esta dimensão antirreligiosa fez do darwinismo um assunto de polêmica perpétua” (6). Nesta polêmica, largos setores da opinião pública engrossaram as fileiras do criacionismo. Nos EUA houve históricos processos judiciais que acabaram na Suprema Corte de Justiça. Versavam sobre o ensino nas escolas do criacionismo, nas suas várias formas bíblicas e cientificas.

Em geral, o criacionismo foi defendido numa ótica protestante, sem a sabedoria da Igreja Católica para interpretar o relato bíblico da criação e delimitar os campos específicos das ciências naturais e da teologia. Isto facilitou a tarefa dos advogados do evolucionismo. Porém, ao longo dessa polêmica patenteou-se que o darwinismo não exibia argumentos persuasivos, e cresceu a idéia de que, não podendo convencer, recorria a instâncias judiciárias para impor o ensino de suas teorizações. As aulas em que se ensinava o evolucionismo viraram um pesadelo para os professores, satirizados pelos alunos e criticados pelos pais de famílias.

Perdendo a batalha da opinião pública, os acólitos do evolucionismo partiram para maior agressividade. O berreiro anticriacionista – com o apoio quase unânime do macro-capitalismo publicitário – atingiu um clímax no ano de 2009, em que comemoram simultaneamente o segundo centenário do nascimento de Darwin e o 150º aniversário da publicação de sua obra fundamental, A Origem das Espécies. 


Um exemplo de “cruzada sem cruz” no Brasil

O apologista mais rumoroso do darwinismo, o biólogo inglês Richard Dawkins, promoveu uma coleta de fundos para pagar anúncios colados em ônibus urbanos de cidades como Londres e Madri – os chamados ônibus-ateus –, com a mensagem: “Provavelmente Deus não existe. Deixe de se preocupar e goze sua vida”.

Em sua “cruzada sem cruz” contra o Deus Criador, Dawkins esteve no Brasil. Falou sobre o tema “Fé e ciência não vivem juntas”, na 7ª Festa Literária Internacional de Paraty (RJ). Segundo ele, “a religião não oferece coisas boas, obrigando as pessoas a viverem entre a escolha do bem ou do mal. Também não oferece uma explicação convincente para a evolução do homem. Acho que acreditar em algo de que não tenha provas é muito perigoso”. Seu último livro leva o significativo título: Deus, um delírio (7).


O evolucionismo religioso modernista ou progressista

O evolucionismo científico foi avidamente assimilado por uma corrente interna do catolicismo denominada modernismo, funestíssima doutrina que o Papa São Pio X condenou como herética. Na encíclica Pascendi, (8) ele verbera o modernismo porque, “em sua doutrina, a evolução é quase o capital. [...] O dogma, a Igreja, o culto sagrado, os livros que reverenciamos como santos, e até a própria fé, [...] devem se sujeitar às leis da evolução” (nº 25). Segundo a doutrina e as maquinações dos modernistas, nada há estável, nada há imutável na Igreja (nº 27).  Sobre esse erro, o santo pontífice aplicou qualificativo como “a síntese de todas as heresias” e “cúmulo infinito de sofismas, com os quais se racha e se destrói toda a religião”.

Após o falecimento de São Pio X, os modernistas voltaram à tona, recebendo o nome de progressistas. Entre seus teólogos destacou-se o Padre francês Teilhard de Chardin S.J., adepto ferrenho das teorias de Darwin, e que se envolveu numa grosseira fraude para fazer passar o esqueleto de um macaco pelo de um homem primitivo, o denominado homem de Piltdown.

O Pe. Teilhard de Chardin desenvolveu sofismas teológicos para encaixar o evolucionismo na doutrina católica. Recorreu a fórmulas não menos confusas que as darwinistas embebidas de panteísmo. Para ele, Deus seria a força que procura realizar-se através da evolução do universo. Esse “deus” incubado na natureza extraiu o homem do macaco e o impulsiona rumo a uma divinização futura (9).

Em virtude disso, para os progressistas a religião deve se colocar a serviço do homem, não tendo mais sentido cultuar um Deus transcendente e pessoal, invenção de uma etapa medieval ou inferior da evolução. 

Na prática, tais doutrinas desfechavam numa “luta de classes” dos leigos contra a Hierarquia Eclesiástica, na abolição das formas tradicionais de piedade e na adoção de cultos e templos que refletissem essa religiosidade cosmética. A moral, a ascese, a ortodoxia doutrinária perderiam sentido. A “nova moral” era a do sorriso, filho da consciência dessa presença do Cristo evoluindo, incubado no mundo. No profético livro Em Defesa da Ação Católica, Plínio Corrêa de Oliveira denunciou em forma magistral e exaustiva para onde levavam tais erros morais.  


O evolucionismo social: Marx e a “luta de classes”

O evolucionismo dito científico de Darwin favoreceu o evolucionismo social. Uma das figuras de proa desse evolucionismo foi o filósofo alemão Karl Marx.

O marxismo desenvolveu teorias muito análogas às darwinistas para justificar as teses mais inumanas. A “seleção natural” das espécies ofereceu uma aparência de cientificismo à “luta de classes” do marxismo-leninismo.

Na obra A Origem das Espécies, discorrendo sobre a “seleção natural”, Darwin afirma: “Como resultado direto desta guerra da natureza, que se traduz por fome e morte, o fato mais admirável que possamos conceber é a produção de animais superiores”.

Marx raciocinou de modo semelhante em matéria de “luta de classes” e evolução histórica, como escreveu no diário “New York Daily Tribune”: “As classes e as raças fracas demais para enfrentar as novas condições de vida devem sair do caminho” (10). E acrescentou depois que as raças mais fortes (as revolucionárias) deveriam realizar sua tarefa, enquanto “a principal tarefa de todas as outras raças e povos, grandes e pequenos, é perecer no holocausto revolucionário” (11). Nessa luta, gerar-se-ia o “homem novo” comunista, estágio mais avançado da evolução da matéria. O resultado disso foi o mais espantoso genocídio da História, levando a cabo por razões ideológicas e pretensamente científicas. A cifra de 100 milhões de vítimas, denunciada noLivro Negro do Comunismo, é tida hoje como aquém da realidade.

Na URSS de Stalin, o formulador oficial do evolucionismo marxista-leninista foi Trofim Danissovich Lyssenko, que se dizia seguidor de Darwin e aplicava à doutrina comunista o princípio darwiniano da “luta de todos contra todos na natureza” (12). Não só expurgos e chacinas, mas extermínios de classe e minoria étnicas “mais fracas” foram assim coonestados. Lyssenko empreendeu experiências para modificar vegetais e animais, mudando seu meio ambiente. Assim deveria acontecer em virtude dos postulados evolucionistas. Mas a teoria não podia dar certo e “os camponeses soviéticos jamais puderam se recuperar do desastre provocado por essas inovações”, observou o já citado Professor Lecourt.

Os cientistas russos que contestaram as fraudes de Lyssenko foram deportados para a Sibéria... Uma prefigura, aliás, do exílio moral e propagandístico a que os evolucionistas condenam hoje aqueles que não aceitam o “dogma” darwinista.


Darwin e o eugenismo adotado pelo evolucionismo

O termo eugenismo – de origem grega, significando melhoramento genético – foi cunhado por um primo-irmão de Charles Darwin e adepto da teoria da evolução, o matemático Francis Galton (1822-1911). Ele tentou criar uma “ciência para o melhoramento das linhagens” humanas, inspirada na criação dos animais. As doenças, os problemas sanitários, socioeconômicos ou sociais, como os ligados às classes pobres, eram interpretadas como fruto de “taras congênitas” próprias a espécimes “inferiores”.

A utopia eugenista foi adotada pelo evolucionismo social. Diversos métodos foram concebidos para detectar os indivíduos, categorias ou raças “decadentes” ou “inferiores”, que deveriam ser segregados, eliminados ou impedidos de se reproduzir para não servir de obstáculo ao progresso da evolução social.

À testa dessa tarefa anti-humana figuravam as nações protestantes. Em 1907, nos Estados Unidos, o estado de Indiana prescreveu a esterilização dos doentes mentais. Dois anos depois, foi à vez dos estados da Califórnia. Connecticut e Washington. Em 1917, 15 estados tinham adotado essa lei, e em 1950 já eram 33. A Suíça seguiu essa tendência eugenista em 1928; a Dinamarca (incluindo a esterilização para criminosos), em 1933; a Finlândia e a Suécia em 1935, e a Estônia em 1937.


Influência evolucionista no nazismo

O movimento nazista adotou freneticamente o evolucionismo e o eugenismo, e foi mais fidedigno à cartilha darwinista do que o marxismo. Em 1933, ordenou a esterilização de nove tipos de “doentes”, entre os quais os cegos, os alcoólatras e os esquizofrênicos! Calcula-se que 400.000 esterilizações foram praticadas pelo III Reich, na Alemanha e territórios ocupados. Um decreto secreto de 1940 obrigava as mulheres “inferiores” a abortar. O extermínio das “raças inferiores” e os esforços para produzir o “ariano puro” – a “raça superior” – são bem conhecidos.

Por certo, os atuais sequazes de Darwin deblateram contra as monstruosas consequências que o nazismo tirou do evolucionismo. Contudo, não é certo que manteriam essa linguagem caso o nazismo tivesse ganhado a II Guerra Mundial... De fato, após a conflagração, o eugenismo escorado no evolucionismo prosseguiu, e está no cerne das campanhas contra a vida. Os pretextos continuam os mesmos: impedir que nasçam crianças com defeitos graves, economicamente insustentáveis ou simplesmente “indesejadas”.


O “assassinato” da moral, confessado por Darwin

Aos 35 anos, Darwin escreveu a um amigo, afirmando estar “quase inteiramente convencido de que as espécies (e isto é como se confessasse um assassinato) não são imutáveis”. O professor Jean-Claude Ameisen, da Universidade Sorbonne-Paris VII, comenta essa “confissão”: “Um assassinato. [...] O assassinato da benevolência divina que vela sobre a natureza? O assassinato da idéia de um fundamento divino que alicerça a moral humana? Talvez Darwin pressentisse não só o abalo que produziria sua teoria em nossa visão da vida, mas também os desastres morais aos quais conduziria a tentação de aplicar aos seres humanos essa ‘lei da natureza’ cuja existência ele descobriu no coração da evolução cega” (13). Esse “assassinato intelectual” ficou como um “crime fundador” da “cultura da morte”, que surgiu alimentada por suas teorias relativistas e anticristãs.


Do “bebê perfeito” à criança fabricada em laboratório

Na trilha da utopia eugenista, a engenharia genética promete produzir um “bebê perfeito”, sem defeitos nem doenças. Mais ainda, ela tenta fabricar uma criança com coeficiente de inteligência, olhos e qualidades ideais. Segundo o Dr. Jacques Testart, pioneiro dos métodos de fecundação in vitro e defensor do evolucionismo, essa tendência prepara a gestação em laboratório de uma “nova humanidade”, e esse novo homem poderia ser chamado “homo geneticus”, que acabaria substituindo o “homo sapiens”, fase atual e provisória do homem na cosmovisão evolucionista. O sonho da “criança perfeita” a todo custo, segundo observa o jornalista científico Michel Alberganti, leva a tentar produzir uma “vida inventada de cabo a rabo”. Então a procriação será uma tarefa de laboratórios, e não mais de pais e mães. Nesse dia a família sofrerá um golpe mortal, pois lhe terá sido tirada sua finalidade primordial. A maternidade não existirá mais, e a Encarnação do Verbo parecerá um procedimento de uma espécie superada. O que será do homem rompido tão radicalmente com a Lei de Deus? A quem ele apelará na hora da angústia ou da necessidade? As perspectivas são “aterrorizantes para alguns” e “fascinantes para outros”, diz Alberganti.

O filósofo das ciências Jean-Pierre Dupuy, apoiando-se no pesquisador australiano Damien Broderick, da Universidade de Melbourne, aponta para o dia em que “o acaso que preside a evolução será substituído por uma pilotagem exercida pelo homem” (14). Contradição suma: com base na “evolução”, recusa-se Deus, mas na ponta do evolucionismo o homem se ergue sobre a tão alardeada evolução e se instala no lugar de Deus.


O pesadelo da confusão das espécies

Para os evolucionistas mais desinibidos, a “vida inventada de cabo a rabo” mergulhar-nos-ia no “paraíso da biodiversidade”. Este consistiria numa utopia igualitária onde as fronteiras entre o homem e os demais seres vivos seriam violadas, para aparecer toda sorte de híbridos: macacos-homens ou animais-vegetais.

Richard Dawkins, o mais renomado porta-voz hodierno do evolucionismo, deplora que “nossa moral e nossa política pressupõem [...] que a separação entre o homem e o animal é absoluta”. Ele deblatera contra os “pró-vida”, que se opõem ao aborto e à eutanásia com base em critérios éticos, como sendo seguidores especialmente condenáveis desse “erro”.

Dawkins também vitupera os católicos porque acreditam que o homem tem uma essência imutável: “Um tal ‘essencialismo’ é profundamente contrário à evolução”. Dawkins imagina um perverso “paraíso” em que todos os animais tivessem relações sexuais entre si, e em que um homem pudesse “se reproduzir com um chimpanzé”. Reconhece que tal “paraíso” – nós o chamaríamos de pandemônio – não existe, mas no futuro as ciências biológicas poderão forjar “cadeias de inter-fecundidade, a continuidade lógica da evolução” (15).

Ele prevê um primeiro passo: a criação em laboratório de “uma quimera composta de um número aproximadamente igual de células de homem e chimpanzé”. A revelação dessa “quimera” visaria provocar um escândalo e uma polemica na qual os homens seriam habituados à idéia de conviver com entes estranhos à ordem natural. “Eu admito sentir um calafrio de prazer, pensando no momento em que vamos questionar aquilo que até então parecia indiscutível” – completa este moderno Dom Quixote do darwinismo.


Justificação evolucionista para a extinção do ser humano

Aceitas essas perspectivas, os arraiais do evolucionismo se interrogam se está próxima a “extinção da humanidade” como nós a conhecemos.

O ecólogo americano Jared Diamond justifica tal suprema maluquice, apelando para os “dogmas” básicos do evolucionismo. Estes estabelecem – sempre arbitrariamente – que ao longo das fases históricas diversas espécies de humanóides foram extintas pelas espécies mais “evoluídas”. Agora teria chegado a vez do “homo sapiens”, ou sexta extinção. “Todos os indicadores da biodiversidade mostram que o trem rumo à sexta extinção já se lançou a toda velocidade”. Diz o professor Philippe Bouchet, do Museu Nacional de História Natural de Paris (16).

O darwinismo avançou na base de hipóteses inverossímeis, mas prenhes de otimismo quanto ao progresso evolutivo. No fim do seu desenvolvimento, desemboca num horizonte exterminador, mórbido e blasfemo. Não contêm essas perspectivas uma loucura ímpia, um supremo crime que visa suprimir da Terra o homem que Deus Nosso Senhor criou à sua imagem e semelhança?


Delírio final: o “pós-humano” e o fim do homem

Imaginam esses neodarwinianos que o homem extinguir-se-ia pelas suas próprias mãos. Não seria um suicídio coletivo impensável, como dizem os retardatários na evolução, mas sim um salto qualitativo.

O que isso quer dizer?

Para os evolucionistas mais atualizados, os avanços das biotecnologias teriam colocado sobre a Terra o “pós-humano”, antes da extinção coletiva.

O filósofo Jean-Michel Besnier, professor da Sorbonne-Paris IV, explica que o “pós-humano” “começou com a idéia de acabar com o determinismo dos nascimentos, pela aparição da pílula e do bebê de proveta”, ele acrescenta nessa linha a procriação assistida, a gestação em laboratório e a clonagem humana: “A utopia pós-humana imagina o fim da história natural da humanidade, tal como foi elaborada pela evolução. No fundo, essa utopia pretende [...] assumir a função da natureza”. Besnier acrescenta ainda que “o protótipo [do “pós-humano”] é o cyborg aparecido nos anos 60, [...] organismos biomecânicos dotados de próteses, vivendo em condições não-terrestres, adotados de faculdades novas que superam os limites humanos. Cyborgs, novos seres, que não evoluirão mais segundo as leis dos seres vivos”.  Escritores saídos de laboratórios de nanotecnologias, inteligência artificial e cibernética“se perguntam quais criaturas inumanas vão nos suceder, e imaginam formas de vida radicalmente inéditas” (17).

Essa multidão de robôs semi-biológicos cessará, sem dúvida, quando não haja mais humanos para consertá-los. A menos que se suponha que alguma espécie de espírito virá a se incubar neles, alegando ser uma inteligência artificial...

Ao contrário de uma hipótese realizável, essas elucubrações parecem um sonho concebido nos abismos infernais, visando frustrar o plano do Criador de todas as coisas para os homens.

“Abyssus abyssum invocat” (“Um abismo atrai outro abismo”, salmo 41, 8), diz a Sagrada Escritura. A falácia desse “pós-humano”, supremo produto do evolucionismo, disfarça o horror resultante do aniquilamento do gênero humano como auge da recusa de Deus, que é o desfecho lógico da “cultura da morte”.


Notas:

(1)                 In “Darwin. L’évolution, quelle histoire!”, hors-série de “Le Monde”, Paris, abril-maio 2009, p. 68. Todas as citações de Charles Darwin reproduzidas neste artigo provêm da mesma fonte.
(2)                 Id. ibid., p. 11.
(3)                 Id. ibid., p. 59.
(4)                 Id. ibid., p. 14.
(5)                 Cfr. http://www.msnbc.msn.com/id/29535870/, 05/3/09
(6)                 Id. Ibid., p. 60.
(7)                 “O Estado de S. Paulo”, 03-07-09.
(8)                 São Pio X, Encíclica Pascendi Dominic Gregis”, 8 de setembro de 1907.
(9)                 A 30 de junho de 1962, o ex-Santo Ofício – hoje, Congregação para a Doutrina da Fé – publicou uma advertência nos seguintes termos: “Certas obras do Pe. Pierre Teilhard de Chardin, incluindo algumas póstumas, têm sido publicadas e encontrado uma aceitação nada pequena. Independentemente do juízo que é devido no que se refere às ciências positivas, verifica-se claramente que, em matéria de Filosofia e de Teologia, as mencionadas obras contêm tais ambigüidades e também erros tão graves, que ofendem a doutrina católica. Por conseguinte, os Excelentíssimos e Reverendíssimos Padres da Suprema Congregação do Santo Ofício exortam todos os Bispos e os Superiores dos Institutos Religiosos, bem como os Reitores dos Seminários e das Universidades, a protegem os espíritos, em particular os dos jovens, dos perigos das obras do Pe. Teilhard de Chardin e das dos seus discípulos” (cfr. “L’ Osservatore Romano”, 30-06-62; cf. AAS 54 (1962), p. 526.). Por ocasião do centenário do nascimento de Teilhard de Chardin, a validade dessa advertência foi retirada em nota do Oficio de Imprensa da Santa Sé, publicada no “Osservatore Romano” de 21 de julho de 1981, após consulta ao Cardeal Secretário de Estado e ao Cardeal Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
(10)             “New York Daily Tribune”, 22 de março de 1853, http://www.marxists.org/archive/marx/works/1853/03/04.htm
(11)             Karl Marx, “Die Neue Rheinische Zeitung”, janeiro de 1849, in “Journal of the history of ideas”, vol. 42, nº 1, 1981; www.churchinhistory.org/pages/booklets/roots%28n%29-2.htm
(12)             “Le Monde”, id. Ibid., p. 9.
(13)             Id. Ibid., p. 56.
(14)             Id. Ibid., p. 85.
(15)             Id. Ibid., p. 91.
(16)             Id. Ibid., p. 92.
(17)             Id. Ibid., p. 94.



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